Todo mundo adora esses eventos esportivos que enaltecem nossos atletas e também nosso país. Portanto, aguardamos com grande expectativa os Jogos Olímpicos de 2024 em Paris. Eles prometem muito brilho e glamour, mas será que tudo é tão perfeito assim? Vamos dar uma espiadinha por trás dos bastidores. Leia este post e descubra as verdades escondidas desse espetáculo na França. Afinal, nem tudo que reluz é ouro olímpico!
Cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris
Normalmente, a festa de abertura dos Jogos Olímpicos ocorre em um estádio, como em 2016, no Maracanã, Rio de Janeiro. Escolher um campo de futebol para a cerimônia garante logística eficiente e segurança do público. No entanto, Paris quebrará essa tradição e celebrará às margens do Rio Sena, em um trajeto de 6 km. No dia 26 de julho, às 19h30, 320 mil pessoas assistirão ao desfile das delegações, com 180 barcos navegando entre a Pont d’Austerlitz e a Pont d’Iéna.
Serão 100.000 lugares pagos (de 90 euros a 2.700 euros) nos cais inferiores do Sena, e 220.000 gratuitos nas plataformas altas. Mesmo não sendo especialista em segurança pública, é fato que a França tem enfrentado uma série de ataques e ameaças ao longo dos anos. Então, fica o meu questionamento de como o governo vai proteger as margens do rio durante esse desfile.
O perímetro é aberto e não num estádio fechado mais simples de controlar. A verdade é que o país está com dificuldade para contratar agentes de segurança. Este ano, muitas cidades não fizeram suas festividades de 14 de julho, por falta de seus agentes.
Essa situação é tão caótica que as pessoas precisarão chegar às 15h30 e esperar no calor escaldante do verão europeu até a cerimônia começar. Qual estrutura está sendo ofertada aos turistas do mundo inteiro para que não passem por tanto desconforto e incerteza?
É estranho que o Ministro do Interior, Gérald Darmanin, tenha inicialmente anunciado 600 mil espectadores, reduzindo o número para metade. Além do mais, os organizadores do evento agora reservarão os lugares gratuitos para “convidados”.
Por fim, espero que tudo corra bem no dia, mesmo achando que a cerimônia no rio Sena pareça uma verdadeira loucura.
Questões ambientais não resolvidas
Inicialmente, vamos falar da competição de surfe que acontecerá na praia de Teahupo’o, no Taiti, território ultramarino da República Francesa. A organização dos Jogos Olímpicos de Paris escolheu realizar essa modalidade na Polinésia a fim de espalhar os eventos por todo o território francês. Será uma distância de mais de 15 mil quilômetros até a cidade-sede dos jogos.
A ideia seria excelente se não fosse por um problema: a construção das torres dos juízes está destruindo recifes de coral no Taiti. Apesar da oposição de muitas organizações ambientais, a Comissão permaneceu firme. Assim, entre os dias 27 a 30 de julho, a competição ocorrerá em Teahupo’o. Os atletas enfrentarão ondas em uma das praias mais icônicas do surfe, enquanto a construção das infraestruturas olímpicas continua a gerar preocupações ambientais.
Outra questão ambiental envolve o esforço para limpar o rio Sena. Esse é um assunto de grande importância e custo para os franceses, totalizando aproximadamente 1,4 bilhões de euros. Após a cerimônia de abertura, o Sena será o local das competições de triathlon nos dias 30 e 31 de julho, e 5 de agosto. Em seguida, haverá as provas de natação nos dias 8 e 9 de agosto, e, finalmente, o paratriathlon acontecerá nos dias 1º e 2 de setembro.
Para demonstrar que a água está adequada para competições, a ministra dos Esportes, Amélie Oudéa-Castéra, nadou no rio, vestindo um traje de natação que cobria quase todo o seu corpo. Logo depois, em 17 de julho, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, também mergulhou no rio. Contudo, os jornais franceses estão escondendo que, pouco antes das competições, os níveis da bactéria E. coli estavam acima dos padrões aceitáveis na maioria dos dias.
Pois bem, cada um faça suas considerações, mas eu não vou me arriscar a me banhar nesse rio!
Impacto da Vila Olímpica para os moradores locais
A famosa Vila Olímpica é o espaço destinado a acomodação dos atletas. Ela foi construída em Seine-Saint-Denis, um dos subúrbios mais pobres da França. Segundo o site oficial dos Jogos Olímpicos de Paris, a Vila acomodará 14.500 atletas Olímpicos e, após os Jogos, 6.000 atletas Paraolímpicos. Ao encerrarem o evento, mais de 2.800 apartamentos e uma área comercial com capacidade para 6 mil funcionários serão remodelados para futuramente serem alugados ou vendidos.
O conceito inicial é que haja um processo de transformação urbana das áreas degradadas. Como resultado, o projeto tenta impulsionar a economia e melhorar a infraestrutura da região. Mas, será que as três comunidades que vão receber essa “revitalização” (Seine-Saint-Denis, Saint-Ouen-Sur-Seine e Île-Saint-Denis) foram consultadas?
Acredito que a decisão sobre a instalação urbana não deveria ser feita por quem está de passagem, mas sim por quem vive lá. Afinal, os visitantes não vão ter que lidar com as consequências do que é decidido! De fato, esse fenômeno pode ter algum efeito positivo, assim como pode resultar em um exacerbado aumento do custo de vida e deslocamento da população local.
Vamos ser francos: a população de Seine-Saint-Denis não terá condições de comprar esses imóveis. Esse empreendimento não vai solucionar o problema habitacional na região. O que realmente faria a diferença seria a construção de centros de saúde, escolas e farmácias.
Por último, gostaria de esclarecer que não sou contra os Jogos Olímpicos. No entanto, acredito que um país não deve assumir essa responsabilidade a qualquer custo. Ignorar o bem-estar de sua população, desrespeitar o meio ambiente ou colocar em risco a saúde e a segurança das pessoas está longe do lema francês “Liberté, Égalité, Fraternité”.