Se você está buscando informações sobre o sistema educacional das escolas na França, este artigo é ideal para você. Como mãe brasileira vivendo no país do “hexágono”, sei muito bem como é a aventura da imigração, especialmente quando você traz seus filhos consigo. Além da segurança, entendo que todos os pais desejam que suas crianças recebam uma educação de qualidade. Neste post, você encontrará tudo o que precisa saber sobre os documentos necessários para a matrícula, as diferenças entre escolas públicas e privadas, dicas para ajudar seus filhos a se adaptarem ao novo ambiente escolar e muito mais.
A instrução escolar na França é obrigatória?
Sim. Na França, os pais são obrigados a inscreverem seus filhos em uma escola, pública ou privada, para os menores entre 3 e 16 anos. No entanto, em certos casos, é possível optar pela educação domiciliar.
Posteriormente, dos 16 aos 18 anos, os jovens têm a incumbência de se formar. Eles podem continuar sua educação em uma escola convencional. Contudo, se assim não desejarem, devem encontrar um emprego, obter um contrato de aprendizagem ou participar de algum serviço cívico. Outra alternativa é frequentar o que é conhecido como escolas de segunda chance, que se concentram na profissionalização dos estudantes. Esse tipo de ensino oferece treinamento remunerado para auxiliar pessoas de até 25 anos a ingressarem na vida profissional.
Por fim, é essencial comunicar que, se os pais não cumprirem com a responsabilidade de garantir a instrução dos filhos, poderão ser penalizados com uma multa de até 1.500 € (um mil e quinhentos euros).
Como são as escolas na França para crianças com até 5 anos de idade?
O sistema francês estrutura-se em três grandes etapas sucessivas de educação escolar. A primeira é o ensino primário, que subdivide-se em école maternelle et école élémentaire.
As crianças entre 3 até 6 anos frequentam a escola maternal (“école maternelle”). Algumas instituições acolhem a partir dos dois anos, mas nessa idade geralmente é necessário que a criança já tenha um certo nível de linguagem e seja capaz de usar o banheiro de forma independente.
O Jardim de Infância corresponde ao ciclo 1 que inclui as seguintes turmas:
a) Seção muito pequena (TPS): alunos de 2 anos de idade
b) Seção pequena (PS): alunos de 3 anos de idade
c) Seção média (MS): alunos de 4 anos de idade
d) Seção grande (GS): alunos de 5 anos de idade
No que concerne ao número de crianças por turma, não há um limite oficial, mas alguns departamentos estabeleceram parâmetros orientativos. A média nacional na “école maternelle” é de 24 alunos por classe, embora haja variações regionais, com muitas escolas tendo mais de 30 alunos em uma sala de aula.
Como são as escolas na França para crianças entre 6 a 10 anos?
No Brasil, chamamos de ensino fundamental, mas na França você ouvirá o termo “école élémentaire“. Ela acolhe alunos de 6 a 11 anos, divididos em dois grandes períodos (ciclo 2 e ciclo 3) e cinco níveis de classes:
a) cours préparatoire (CP): alunos de 6 anos de idade
b) cours élémentaire 1re année (CE1): alunos de 7 anos de idade
c) cours élémentaire 2e année (CE2): alunos de 8 anos de idade
d) cours moyen 1re année (CM1): alunos de 9 anos de idade
e) cours moyen 2e année (CM2): alunos de 10 anos de idade
Segundo o site Eduscol, os alunos têm 24 horas de aula por semana. No 2º ciclo, o foco do estudo está nas seguintes matérias: francês, matemática, língua estrangeira, aula artística, ensino moral e cívico (EMC) e educação física e esportiva (EPS). No 3º ciclo, além dessas disciplinas, são incluídas ciência e tecnologia, história e geografia.
Para facilitar o entendimento, apresento uma tabela que explica as etapas do sistema educacional francês:
Como são as escolas na França para os menores entre 11 a 14 anos?
O collège se divide em 4 classes decrescentes:
a) 6ème : alunos de 11 anos de idade – 3º ciclo
b) 5ème : alunos de 12 anos de idade – 4º ciclo
c) 4ème : alunos de 13 anos de idade – 4º ciclo
d) 3ème : alunos de 14 anos de idade – 4º ciclo
No último ano do 3º ciclo, na classe sixième, os alunos se dedicam às seguintes disciplinas: francês, matemática, biologia (Sciences de la Vie et la Terre – SVT), física e química, língua estrangeira, aula artística (artes plásticas e música), história, geografia, ensino moral e cívico (EMC), educação física e esportiva (EPS). Se o estudante quiser, pode se inscrever em um curso opcional para aprender mais um outro idioma.
No 4º ciclo, a matéria de biologia é separada das aulas de física e química. Uma nova disciplina, tecnologia, é adicionada ao currículo. Por fim, a última grande mudança é que o segundo curso de língua estrangeira se torna uma matéria obrigatória.
Diferente do Brasil, os alunos na França, ao concluírem o collège, devem passar por um exame obrigatório para obter o Diplôme National du Brevet (DNB). Mas, vamos deixar a preparação para esse teste para um post separado que você pode ler aqui.
Como são as escolas na França para os adolescentes entre 15 a 17 anos?
O lycée é comparável ao ensino médio no Brasil, sendo dividido em três séries decrescentes:
a) classe de seconde (2nde) : alunos de 15 anos de idade
b) classe de première (1ère ): alunos de 16 anos de idade
c) Terminale : alunos de 17 anos de idade
Nessa etapa, os alunos têm a oportunidade de escolher áreas de estudo mais específicas, dependendo de seus interesses e aspirações futuras. Existem diferentes caminhos, como o lycée général (geral), professionnel (profissionalizante) e technologique (tecnológico). Se compararmos com o ensino médio brasileiro, os estudantes geralmente seguem um currículo mais amplo e geral, sem a mesma especialização precoce encontrada na França.
No 2º ano (aos 15 anos de idade), os alunos têm uma parte significativa do currículo dedicada ao ensino comum, que abrange uma ampla gama de disciplinas. No entanto, eles também têm a oportunidade de iniciar sua especialização escolhendo três cursos de especialidade.
À medida que avançam para o último ano, a ênfase na especialização aumenta, e a proporção do ensino comum diminui. No último ano, um dos três cursos de especialidade escolhidos no primeiro ano é abandonado, e os alunos se especializam ainda mais em duas disciplinas.
Todos os estudantes do país devem se submeter ao exame do baccalauréat (“bac“). Esse teste guarda semelhanças com o ENEM do Brasil, sendo necessário para ingressar na universidade. Como esse tema é extenso e importante, dediquei um artigo exclusivo a ele que você pode ler aqui!
Por fim, segue mais um quadro dos degraus do ensino na França, já que às vezes uma imagem é mais útil do que muitas explicações:
Quais são os horários das aulas escolares na França?
Os horários podem variar dependendo da região e do nível escolar, mas a estrutura básica permanece consistente em todo o país. Assim, vejamos:
a) Segunda, terça, quinta e sexta-feira:
- 8h20: Abertura dos portões da escola
- 8h30 – 11h45: aula
- 11h45 – 13h45: pausa para o almoço
- 13h45 – 16h30: aula
b) Quarta-feira: Muitas escolas terminam as aulas ao meio-dia ou oferecem atividades extracurriculares.
Quando ocorrem as férias escolares na França?
A França continental divide-se em 4 zonas escolares: A, B, C e Córsega. As férias dos estudantes dependem da zona em que a escola se situa. Citando algumas cidades: Na “A” temos: Bordeaux, Grenoble, Lyon. Na “B” temos: Lille, Nantes, Nice, Strasbourg. Já na zona “C” temos: Montpellier, Paris, Tolouse. Essa organização evita que todos os alunos franceses entrem em férias ao mesmo tempo.
O recesso é pautado pelas estações do ano e também por algumas festividades, da seguinte maneira:
a) Férias de Verão (Grandes Vacances): Geralmente começam no início de julho e terminam no início de setembro.
b) Férias de Outono (Toussaint): Aproximadamente duas semanas no final de outubro até a primeira semana de novembro.
c) Férias de Natal (Vacances de Noël): Aproximadamente duas semanas, começando dois dias antes do Natal e terminando na primeira semana de janeiro.
d) Férias de Inverno (Vacances d’hiver): Duas semanas em fevereiro, com datas específicas variando por zona. Pode se estender para o início de março.
e) Férias de Primavera (Pâques): Duas semanas em abril, também com datas específicas variando por zona.
O calendário modifica ligeiramente todo ano, mas em geral dá para se basear nesse padrão para planejar as férias escolares.
Quais documentos e onde faço a matrícula de meus filhos?
Primeiramente, é importante explicar que a criança ou adolescente deve estar residindo no país no momento da matrícula. Agora, vamos ao passo a passo:
- École Maternelle
O registro ocorre em duas etapas. A primeira fase acontece na prefeitura (mairie) junto ao serviço de primeira infância da cidade onde a família reside. Os pais devem realizar a inscrição até o mês de junho, antes do início do ano letivo, que começa em setembro. Recomendo, no entanto, que busque mais informações na prefeitura assim que chegar à França.
Além disso, para conclusão do registro, será necessário apresentar alguns documentos:
a) Documento de identidade dos pais e da criança, como passaporte ou certidão de nascimento.
b) Comprovante de residência
c) Declaração do imposto de renda
Este último nem sempre é solicitado pela Administração. Porém, se exigirem tenha a ciência que é apenas para determinar o valor que os pais devem pagar pela cantina escolar.
Em seguida, os pais receberão o certificado de inscrição na prefeitura. Esse documento é essencial para a segunda etapa, pois indica o nome e dados de contato do estabelecimento que irá acolher o seu filho. Nesta fase, que ocorre diretamente na escola, os pais devem apresentar ao diretor da instituição a carteira de vacinação da criança e o certificado mencionado anteriormente.
- École élémentaire, Collège e Lycée
Em razão do seu lugar de residência, você irá matricular diretamente seu filho na escola fundamental, no ensino médio ou profissionalizante.
Quais são as melhores escolas na França?
Neste ano de 2024, o site classement-lycees.etudiant.lefigaro.fr divulgou o ranking dos melhores lycées segundo o resultado de seus alunos no último BAC:
Ademais, se você quiser ver a classificação dos lycées da cidade onde vai morar, é melhor dar uma olhada no site. Essa lista pode te surpreender!
O que posso esperar das instituições de ensino francesas?
Em geral, as escolas públicas na França têm uma reputação melhor do que as do Brasil. Porém, cada vez mais os pais franceses estão escolhendo as particulares. Isso acontece por alguns motivos, como falta de professores, salas de aula lotadas e distância de casa. Além disso, não raras as vezes em que as escolas administradas pelo governo enfrentam greves.
Outra questão importante e que tem sido alvo de debate é a qualidade do ensino. Como mostra o ranking dos melhores lycées do país, apenas 2 colégios são públicos entre os 10 primeiros classificados, os outros 8 são privados. Essa lista é um reflexo dessa disparidade entre a educação pública e privada.
Por último, não poderia deixar de comentar que, nas reportagens de televisão que presenciei sobre incidentes criminais em ambientes escolares, estes se deram predominantemente em instituições de ensino públicas.
Existe algum programa para auxiliar na adaptação dos novos estudantes estrangeiros?
As crianças e adolescentes que acabaram de chegar ao país devem passar por um teste de nivelamento antes de ingressarem no sistema educacional francês. O governo criou o CASNAV (Centre Académique pour la Scolarisation des Nouveaux Arrivants et enfants du Voyage) para verificação dos estudantes estrangeiros com idades entre 11 e 18 anos. Em contrapartida, a Câmara Municipal será a responsável pela análise das crianças de até 10 anos.
Se constatarem que o estudante não tem condições de estudar na mesma classe que outros da mesma idade o jovem será encaminhado para uma turma da UPE2A (Unité Pédagogique pour Élèves Allophones nouvellement Arrivé). Durante um ano, ele frequentará cursos intensivos de francês (12 horas por semana). Com base em seu desenvolvimento, o aluno têm a possibilidade de participar das aulas regulares das outras disciplinas acadêmicas.
O governo tem um cuidado especial para que as classes da UPE2A não ultrapassem o limite de 30 alunos. Ressalte-se que se a criança nunca estudou esse limite é reduzido para 15 por sala de aula. Dessa maneira, quanto mais rápida for a adaptação ao idioma e ao conteúdo das disciplinas, mais rapidamente ocorrerá a integração ao ensino convencional.